RSS

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alfabetizar o coração dos filhos

Num mundo marcado por um consumismo que atinge até as relações familiares, é preciso que os pais busquem uma nova educação voltada para o ser e não para o ter.

A arte do convívio passa pela alfabetização do coração, pois construir um espaço ético e afetuoso não prescinde da amorosa escola familiar. O planeta Terra – justo-injusto, solidário-não solidário, feliz-infeliz – será a projeção desse lar-coração. A futura geração construirá um mundo afetivo se as crianças sentirem o pulsar do coração parental. Nesse sentido, o educador Roberto Crema afirma que “nós só buscamos o que já encontramos”. Mas, afinal, o que significa alfabetizar o coração?
Trata-se da capacidade para escrever e conjugar a vida com o alfabeto e a cultura do afeto, priorizando o ser. Alfabetizar o coração consiste em formar filhos com uma inteligência emocional saudável, aptos para a construção de vínculos afetivos, preparados para experimentar sentimentos de alegria, tristeza, raiva e medos, sendo que a negação destes poderá gerar ansiedade, depressão, fobias, mágoas, culpas, etc.

Nem sempre é uma tarefa fácil alfabetizar o coração, sobretudo porque a sociedade atual se tornou um desafio à cultura do afeto. O relatório Jacques Delors, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), intitulado Educação, um tesouro a descobrir, alerta para o fato de que “a educação ocorre ao longo de toda a vida”. A alfabetização do coração supõe pais atentos às ideologias da sociedade hipermoderna, caracterizada pelo fenômeno da mundialização e influenciada por conflitos socioeconômicos, éticos e ecológicos e também por avanços tecnocientíficos. O mundo atual se comunica de forma acelerada, provocando uma generalização de costumes e normas comportamentais e culturais e, assim, abalando tradições, bons hábitos e costumes familiares. Essa geberalização dos costumes pode ainda ocasionar uma perda da identidade e da originalidade de cada cultura.

Prisão consumista – Outra epidemia de nossa época é a “normose”, conceituada por Roberto Crema como uma “patologia da normalidade”, na qual o que vale é o senso comum. Comportamentos e atitudes são aceitos e abstraídos da avaliação correto-incorreto, humano-desumano. A referência de valor se sujeita a um pensamento cômodo: “Todo mundo faz, consome, bebe, usa, freqüenta, descarta, rouba, mata, corrompe; é tudo normal... está na moda”. E como ficam os pais levados por essa correnteza “normótica”? Confusos, receosos de serem taxados de antiquados e inseguros por discordarem do senso comum. Portanto, aqu vai um alerta: Pais, acreditem na sua intuição, em seus princípios e valores, oportunizando a alfabetização do ser no sagrado espaço familiar!

Mas como alfabetizar o coração dos filhos numa sociedade consumista, hedonista e imediatista? Uma atitude nessa direção é tomar cuidado ao fidelizar parcerias consumistas, presenteando filhos com a felicidade relâmpago. A maioria dos pais de hoje trabalha muito porque precisa ter dinheiro para comprar as novidades lançadas no mercado. Já as crianças assustam os pais com suas listas de necessidades. E estes sentem dificuldade em frustrar os filhos e percebê-los tristes pela dor do não ter.

Amores descartáveis – A “normose” consumista determina que tudo seja fabricado para durar pouco e apresenta a solução para o caso de perdas e estragos afirmando: “Não se preocupe, já existe algo mais moderno, com mais recursos. Descarte e substitua!”. Para dar conta desse giro, os pais precisam trabalhar, fazer horas extras e bicos, enfim, ganhar mais dinheiro para nutrir o circuito quebra-compra-troca. Esse mercado consumista potencializa pais estressados, cansados e desfocados da energia que mantém um relacionamento tranqüilo e amoroso com os filhos. Pais esgotados querem fugir de reclamações e choradeiras, facilitando a manutenção do ter. Essa forma de pensar e sentir ante objetos e desejos insaciáveis acaba se deslocando para os afetos, para os amores, e estimula uma geração de vínculos imediatos, breves, utilitaristas e descartáveis.

No contexto atual, presenciamos panoramas familiares doloridos, desequilibrados, conseqüência do analfabetismo do afeto pelo qual pais descartam de suas vidas seus filhos e vice-versa. Numa sociedade que privilegia o ter, os amores são facilmente descartados. Muitas famílias se desfazem, considerando isso normal. A sociedade imediatista esqueceu-se de que amadurecer sentimentos , crescer e aprender são tarefas diárias.

Afabetizar o coração dos filhos é buscar um novo jeito de educar, olhar e amar. Segundo o relatório de Jacques Delors, nossos filhos precisam aprender a pensar, sentir, conviver e intuir. Acreditem, pais: a família ainda é, para o escritor Ciriaco Moreno, “a primeira escola das virtudes morais e espirituais”. A escola-lar levará pais e filhos a ser, dando um significado a suas existências através da alfabetização do coração.

Dicas aos pais:
- Observar os sentimentos do filho (alegria, tristeza, raiva e medos) e escutá-lo;
- Pondere com o filho a sua lista de consumo, distinguindo desejo e necessidade;
- Transforme seu lar numa escola de valores morais e espirituais.

*Artigo publicado na Revista Família Cristã, Paulinas Editora, São Paulo, em setembro de 2008
**Todos os textos publicados neste blog são temas apresentados em palestras.

Encontro das Mães Evangelizadoras

No dia 2 estive presente no encontro das Mães Evangelizadoras, no Santuário das Mães, em Novo Hamburgo (RS). Minha participação se deu através da palestra Um olhar no ser mulher, na qual a mulher toma-se nas mãos e defronta-se com o espelho do eu. Amadurecida olha-se na janela do tempo, tranformando rugas em rendas de sabedoria e aprendizados.Olha a humanidade e assume sua inteireza como mulher e compromete-se nas questões de uma maternidade social e ao mesmo tempo que olha para a interioridade faz-se comprometida com uma humanidade que precisa aprender amar seus irmãos e o planeta Terra.

Compartilho com vocês algumas imagens do evento: