Queridos amigos,
gostaria de compartilhar com vocês a postagem da Marina no blog dela:
Egito e Brasil. Ela é brasileira mas mora no Egito, e tem um blog lindo. Confira só o que ela postou:
"Se filhos
fossem violetas…
Ontem tive um dia
peculiar. Jejuei e quebrei o jejum com meu pai, uma coisa bem rara. Geralmente
ninguém da família está comigo neste momento de quebra de jejum, afinal
trabalho durante a semana e meus pais, que são católicos, não jejuam como eu.
Mas peguei ele do trabalho e fomos direto para o Pari, do lado até da mesquita,
e jantamos juntos só nós dois.
Depois, levei-o até a igreja que eles
frequentam, na zona norte, e fiquei para assistir uma palestra de uma
psicoterapeuta sobre filhos. Como não teria nada necessariamente ligado a ritos
católicos, mas sim a conceitos morais que são com os quais fui criada e
acredito até hoje, topei assistir.
Quem deu a palestra foi gaúcha Cleusa Thewes,
com o tema “Se filhos fossem violetas, pais não chorariam…”. Ela escreveu um
artigo sobre isso, está aqui no blog
dela, se alguém tiver interesse. Foi sobre a adolescência, uma fase geralmente
conturbada.
Eu fui na palestra buscando alguma inspiração
para ser mãe, ando numa fase de busca sobre este tema, afinal estou chegando
nos 30 e já tenho mais de 5 anos de casada, é bom começar a pensar sobre isso.
Mas a palestra não falou de situações
hipotéticas ou listou argumentos ralos sobre como controlar filhos, aquelas
coisas que a gente espera. Mas não. A palestra falou da minha vida e de como
fui adolescente. Falou de mim, dos meus irmãos, da minha mãe. Eu fiquei com
aquele jeito meio estarrecido, do tipo, não é possível que ela está falando
isso, dando estes exemplos que se passaram exatamente comigo!
Claro que com a grande experiência da Cleusa
como terapeuta ela entende muito do assunto e sabe exatamente o que é comum de
acontecer em muitas casas, por isso a conexão imediata. Mas ela é super pé no
chão e tem uma vastíssima experiência em conflitos familiares. Mesmo assim, eu
me surpreendi muito, já que praticamente tudo que ela aconselhava aos pais ser
o melhor, foi como meus pais agiram na vida deles com seus filhos.
Uma hora ela disse: ”Filhos
desafiam. Violetas silenciam.” E não falou sobre o aspecto negativo, mas
sim como é bom ter filhos que pensam, que argumentam, que não aceitam tudo de
cara fechada. Como não é possível se impor comportamentos, que a individualidade
de cada um deve ser respeitada.
Deu exemplos que poderiam ser da minha vida.
Citou, por exemplo, um filho que aos 15 anos decidiu que queria comprar um
coturno preto e só usar roupas pretas. “Deixa o filho experimentar, isso tudo
passa”, falou.
Lembrei que meus pais nunca me impediram de
andar de skate, pintar meu cabelo de verde, riscar todos os meus tênis ou usar
calças “bag” (sei lá se é esse nome, mas lembro que era assim que a gente
falava no final dos anos 90). Eu sempre pude me expressar como eu queria,
nunca fui reprimida na minha individualidade ou na forma que queria me
expressar. E tudo isso realmente passou.
Eu experimentei, errei muitas vezes, mas sempre
tive pais ao meu lado que não me julgavam ou pressionavam. Sim, eles aconselhavam
e muito. Pouco a pouco, o discurso deles sempre me convenceu. Muitas coisas que
meus pais falavam e eu fazia exatamente ao contrário de pirraça, eu aprendi com
minhas falhas depois que poderia ter evitado e sofrido menos se os tivesse
escutado. Mas se eu não fosse atrás e visse com meus próprios olhos o que era
aquilo, eu jamais teria acreditado nos meus pais e talvez estaria errando até
hoje.
A Cleusa foi falando de tudo isso e fui vendo o
filme da minha vida passando. Ela disse “Se os filhos se tornassem violetas
coloridas, serenos, sem adolescência, na casa haveria ausência de encrencas,
revoltas, confrontos. Filhos sem preguiça, maduros. Filhos menos impulsivos,
mais sensatos, sem festas, sem maconha nem álcool, sem transgressão, filhos
somente. A mãe desperta: filhos não são violetas, são pessoas."
Tirando a maconha (juro), eu fiz tudo isso.
Buscava sempre o contrário do que me era ensinado pela curiosidade normal que
despertamos nesta época. Minha mãe ficava muito brava sim, chorava na nossa
frente, chorava escondida. Mas estava sempre presente, pronta a mostrar o que
era melhor de uma forma calma. Minha mãe e meu pai nunca me abandonaram, mesmo
quando eu parecia totalmente disposta a ficar longe deles.
E quando cresci um pouco mais, não mudei muito não.
Busquei meus caminhos, minhas vontades, minha própria forma de encarar Deus. E
meus pais não me viraram as costas. Antes de ir para o Egito, minha mãe até me
levou ao médico para ver se estava tudo bem, comprou roupas novas. Meu pai
falou, com a cara mais séria do mundo, mas as palavras mais doces: “eu sou
contra, você sabe, mas quando quiser voltar estaremos de braços abertos”. Eles
já tinham certeza, nesta época, dos valores que tinham me passado e sabiam que,
mesmo longe, nada disso mudaria.
Meus pais sempre se orgulharam de mim e nunca
tiveram vergonha do que eu fazia – mesmo quando eu não seguia o convencional.
Eles me criaram para o mundo e para ser feliz, não seguir modelos ou ficar
embaixo de suas asas. Nunca fantasiaram o que eu sou, ou foram babões de ficar
falando que sou a filha perfeita ou sei lá mais o que, como muitos fazem.
Eu tive uma adolescência muito, mas muito feliz
mesmo. E isso me fez forte. Eu tenho uma auto-estima quase sempre inabalável,
sou uma pessoa super otimista, não gosto de comparar a minha vida com a dos
outros e isso me poupa de frustações desnecessárias. Eu fiz minhas escolhas
sempre, sou fruto delas porque tive esta liberdade desde pequena.
Lembro até hoje de um texto que escrevi no meu
diário – eu sempre escrevi muito, mas meu diário não eram essas agendas
coloridinhas de menina, eu escrevia em cadernos mesmo e cheio de garranchos –
em que eu dizia que queria ficar para sempre com 14 anos. Eu me sentia
completamente feliz nesta época e queria ter certeza de que este estado de
espírito nunca iria acabar. O texto se chamava “14 anos para sempre”, lembro
até hoje.
E acho que consegui, em certa proporção, parar o
tempo. Não me sinto mais velha, me sinto mais esperta. Continuo fazendo coisas
de criança, vivo sem pensar tanto assim no futuro, em juntar dinheiro para isso
ou para aquilo, quero ser feliz agora pois não sei até quando vai minha vida.
É, sei que sou um pouco juvenil, mesmo que nem sempre isso seja bom.
Claro que poderia fazer melhor, poderia me
planejar mais, ser mais organizada, fazer um mestrado, juntar uma poupança,
escrever – finalmente – 0 meu livro, não deixar a louça acumulada na pia, parar
de falar as coisas sem pensar, ser menos ríspida, mais focada. Não sou
perfeita, nem nunca vou ser. Mas sou feliz, e cada vez mais chego a conclusão
de que muitas pessoas tem dificuldades de se sentirem assim. Sei que nosso
mundo de hoje nos pressiona muito, fico fora de casa quase o tempo todo, tenho
muitas contas para pagar e pouco tempo para mim.
Tenho problemas sim, e muitos. Mas minha
tristeza dura poucas horas, não deixo nada disso governar a minha vida. E não
sei o porquê, tenho certeza de que sou assim por causa da educação que ganhei
dos meus pais. Mesmo sendo totalmente diferente deles, extraí coisas
maravilhosas da nossa convivência. Eles nunca me cobraram a perfeição, pois
isso não existe. Sabem que sou uma pessoa, não uma violeta."
Espero que tenham gostado.
Até a próxima pessoal!! ;)