O que é cuidar? O que é
controlar? Você é cuidadoso ou
controlador?
Estes questionamentos lhe
conduzirão ao autoconhecimento, ao modo como funciona e contribui para construir um relacionamento saudável.
A charada é conhecer-se para viabilizar uma interação conjugal calibrada. Considere significativa,
ainda, a distinção entre cuidar e
controlar. Sentimentos inadequados geram atritos, repressões, distanciamentos e
disfunções no relacionamento diário.
Herdeiros do controle - Historicamente, o brasileiro carrega condicionamentos. Um legado emocional do rigor político: o medo de ser controlado. Fomos
tolhidos, calados e reprimidos na nossa própria pátria, nosso chão. Hoje, finalmente, povo novo em nova pátria, com matiz e perfil renovados, resgata a autonomia cidadã, o protagonismo social: escolhemos, criamos e até criticamos. Mas, se
abdicarmos do cuidado, “o berço esplêndido”, abandonará, não acolherá seus
parceiros. E na cantada “pátria livre”, dos “laços fora soldados”, exercita-se um controle
equilibrado, que busca limitar a
violência, promover segurança e
o zelo pelos seus amados. Devemos entender que a realidade social fotografa e reproduz na instância
macro a interação relacional da micro célula familiar, um cuidar ou um
controlar.
Herdeiros da cultura
machista - Nossa família de origem, avós e pais, foram criados num clima familiar
onde o poder, a autoridade e o controle eram habilidades masculinas
compreendidas e aceitas como necessárias para manutenção do sistema familiar. A mulher, na
casa, dava seu aval ao homem. As regras, impostas pelo marido, eram
obedecidas por ela e pelos filhos. Recordemos uma fala saudosa:
lá em casa, o papai falava, e ninguém
abria a boca... Resquícios da variável
controladora acompanham gerações, tipo sombra. Reflexões avançaram e começamos a compreender onde a força controladora
liquidifica autoritarismo e autoridade. Gente, desapegar-se dos velhos hábitos e assimilar novos é
aprendizado lento. Casais e pais, o controle continua disfarçado de cuidado colorido nos lares. Isso é manipulação e poder.
O que é cuidar? É zelar, amparar, respeitar,
valorizar, regrar, flexibilizar, dialogar. Os cuidadores confiam,
estimulam. Dão espaço ao outro. Pessoas
cuidadas revelam-se seguras, abertas aos desafios. Amadurecem.
O que é controlar? É invadir o espaço alheio
determinando o que o outro tem que ser,
fazer, vestir e até pensar. É
fiscalizar com desconfiança. O controlador mostra-se rígido, inflexível,
possessivo. Supervaloriza a sua verdade, minimiza a verdade do esposo (a), dos filhos. Pessoas
controladoras geram ruídos e desconforto
nos relacionamentos. E os controlados? Sentem-se diminuídos, medrosos,
rebeldes, pouco confiantes.
João e Vera na cozinha - Casados há 30 anos. Ela do
lar. Ele, empresário aposentado, decide ajudá-la no lar. Vera coloca a
chaleira para esquentar água no fogão; João
reclama que a chaleira está mal posicionada, desperdiçando gás. Vera
enfurece!
Vera lava a louça, limpa a
pia. João comenta: - deixaste a pia cheia de pingos, precisa secar melhor... Todas
as manhãs, na cozinha, o bate-rebate:
faça assim, não faço. Vera sente-se controlada e João, desgastado no
controle sem êxito, resultado de confrontos e disputas por espaço no diário
jogo de força e controle.
Que soluções encontraram
para cada cônjuge ser do seu jeito? Dividiram as tarefas. Ela cuida da cozinha
e ele do pátio. Ela borda, ele lê. Depois das brigas, dialogaram. E aprenderam
a respeitar seus jeitos e quadrados num mesmo espaço.
Maria virou estudante - Casada, filhos adultos,
aposentada. Resolveu ir à faculdade. O esposo enlouqueceu. O lugar dela era ao lado dele, fazendo o que
ele queria. Durante 15 anos ela
tratou de depressão, tomou remédios para suportar fazer apenas o que ele queria. Sofria de
fibromialgia, diariamente. Maria, porém, assumiu seu desejo, foi para a faculdade. A
depressão sumiu e a fibromialgia, nunca mais sentiu. E o esposo como está?
Brigou, gemeu, nasceu... Entregou o comando da vida de Maria para ela. Juntos
aprenderam que controlar não é cuidar.
Lembrete:
use somente o controle remoto dos aparelhos
eletroeletrônicos. Pessoas não são
máquinas. São seres que desejam cuidado
equilibrado.
*Artigo publicado na revista Família Cristã, edição de fevereiro de 2012.