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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Herdeiros do controle


O que é cuidar? O que é controlar?  Você é cuidadoso ou controlador?
Estes questionamentos lhe conduzirão ao autoconhecimento, ao modo como funciona e contribui  para construir um relacionamento saudável.
A charada é conhecer-se  para viabilizar uma interação  conjugal calibrada. Considere significativa, ainda, a distinção  entre cuidar e controlar. Sentimentos inadequados geram atritos, repressões, distanciamentos e disfunções no relacionamento diário.

Herdeiros do controle - Historicamente, o  brasileiro carrega condicionamentos. Um legado emocional  do rigor político: o medo de ser controlado.  Fomos  tolhidos, calados e reprimidos na nossa própria pátria,  nosso chão. Hoje, finalmente,  povo novo em  nova pátria, com matiz  e perfil renovados, resgata a  autonomia cidadã, o  protagonismo social:  escolhemos, criamos e até criticamos. Mas, se abdicarmos do cuidado, “o berço esplêndido”, abandonará, não acolherá seus parceiros. E na cantada “pátria livre”, dos  “laços fora soldados”, exercita-se um controle equilibrado,  que busca limitar a violência, promover   segurança e  o zelo pelos seus amados. Devemos entender que a realidade social  fotografa  e reproduz  na instância  macro a interação relacional da micro célula familiar, um cuidar ou um controlar.

Herdeiros da cultura machista - Nossa família de origem,  avós e pais, foram criados num clima familiar onde o poder, a autoridade e o controle eram habilidades masculinas compreendidas e aceitas como necessárias para  manutenção do sistema familiar. A mulher, na casa, dava seu  aval ao homem.  As regras, impostas pelo marido, eram obedecidas por ela e pelos filhos. Recordemos uma fala saudosa:  lá em casa, o papai falava, e ninguém abria a boca... Resquícios da variável controladora acompanham gerações, tipo sombra. Reflexões avançaram e começamos  a compreender onde a força controladora liquidifica  autoritarismo e autoridade. Gente, desapegar-se dos  velhos hábitos e assimilar  novos  é aprendizado  lento. Casais e pais,  o  controle continua disfarçado  de cuidado  colorido nos lares.  Isso é manipulação e poder.
O que é cuidar? É zelar, amparar,  respeitar,  valorizar, regrar, flexibilizar, dialogar. Os cuidadores confiam, estimulam. Dão espaço ao outro. Pessoas  cuidadas revelam-se seguras, abertas aos desafios. Amadurecem.
O que é controlar? É invadir o espaço alheio determinando o  que o outro  tem que ser,  fazer, vestir e até pensar. É  fiscalizar com desconfiança. O controlador mostra-se rígido, inflexível, possessivo. Supervaloriza a sua verdade, minimiza a verdade  do esposo (a), dos filhos. Pessoas controladoras geram  ruídos e desconforto  nos relacionamentos. E os  controlados? Sentem-se diminuídos, medrosos, rebeldes, pouco confiantes.

João e Vera na cozinha - Casados há 30 anos. Ela do lar. Ele, empresário aposentado, decide ajudá-la no lar. Vera coloca a chaleira  para esquentar água no fogão; João  reclama que a chaleira está  mal posicionada, desperdiçando gás. Vera enfurece!
Vera lava a louça, limpa a pia. João comenta: - deixaste a pia cheia de pingos, precisa secar melhor... Todas as manhãs, na cozinha, o bate-rebate:  faça assim, não faço. Vera sente-se controlada e João, desgastado no controle sem êxito, resultado de confrontos e disputas por espaço no diário jogo de força e controle.
Que soluções encontraram para cada cônjuge ser do seu jeito? Dividiram as tarefas. Ela cuida da cozinha e ele do pátio. Ela borda, ele lê. Depois das brigas, dialogaram. E aprenderam a respeitar seus jeitos e quadrados num mesmo espaço.

 Maria virou estudante - Casada, filhos adultos, aposentada. Resolveu ir à faculdade. O esposo enlouqueceu.   O lugar dela era ao lado dele, fazendo o que ele queria. Durante 15 anos ela tratou de depressão, tomou remédios para suportar fazer  apenas o que ele queria. Sofria de fibromialgia, diariamente. Maria, porém,  assumiu seu desejo, foi para a faculdade. A depressão sumiu e a fibromialgia, nunca mais sentiu. E o esposo como está? Brigou, gemeu, nasceu... Entregou o comando da vida de Maria para ela. Juntos aprenderam que controlar não é cuidar.

Lembrete: use somente o controle  remoto dos aparelhos eletroeletrônicos.  Pessoas não são máquinas. São seres que desejam cuidado  equilibrado. 


*Artigo publicado na revista Família Cristã, edição de fevereiro de 2012.

O casamento e o Playstation


Como os casais  administram   a variável  Playstation  nos relacionamentos?
Toda geração é  caracterizada por inovação e mudança. O chavão “no meu tempo...” é preconceituoso e deve ser aposentado. O Playstation compõe o enxoval da juventude do século XXI. É  um brinquedo indispensável.

Recordando gerações - Mudanças culturais, antropológicas, econômicas, espirituais e tecnológicas delimitam gerações.
Geração Baby Boomers (1946/1964) -  marcada pelo fim da 2ª guerra mundial,  reconstruiu seu mundo focada no trabalho.
Geração X (1965/1978) - viveu o movimento Hippie, a revolução sexual, quis paz,  liberdade e o anarquismo. Esta geração pagou as contas.
Geração Y (1979/1992) - conduziu à revolução tecnológica, à globalização, à multicultura, à diversidade. Quis liberdade e flexibilidade. Mergulhou na satisfação do desejo e no consumismo.

Geração Playstation, aqui/agora - São  filhos tardios da geração X e precoces da geração Y. Eles migram do vídeo game para o Playstation e computadores.
Os jogos virtuais de  hoje atendem aos interesses dos meninos e das meninas. Ambos os sexos estão no páreo.
Fala-se na 4ª geração: A dos jogos eletrônicos.
Perguntei ao Marcio Soares, produtor de entretenimento interativo,  por quê  jogos eletrônicos atraem ? Ele considerou que esta mídia é poderosa, possibilita imersão e conduz o jogador ao poder ativo de ação ( tomada de decisão).
Jogos Quebra-cabeça (jornais/revistas) instigam a curiosidade,  buscam de resposta. São passatempo.
Jogos de Charadas desenvolvem o raciocínio lógico.
Jogos eletrônicos transformam o jogador em personagem principal. Há o estímulo da recompensa. Respostas imediatas  motivam a busca e a persistência. Levam à tomada de decisões e a uma visão global. No jogo de criar cidades, por exemplo, o jogador beneficia a população, viabilizando economia, saúde, educação, habitação. Habilita a cidadania.
O objetivo do jogo é levar o jogador a sentir, experimentar, oferecer possibilidades impossíveis na vida real, tais como:  voar, ser um monstro. Objetiva  entreter e alegrar.
O RPG favorece a interação e o desempenho de papel diferenciado a cada jogador.

Mudanças assustam - Os recursos tecnológicos da mídia favorecem a evolução do ser humano e trazem mudanças, mas também assustam.
A geração X brincava de boneca, bicicleta, carrinho. As meninas imaginavam ser a Branca de Neve; os meninos, bombeiros, policiais. A geração X foram  vitoriosos aprendizes da inofensiva máquina de datilografia.
Esta geração foi marcada por olhares passivos na frente de programas televisivos. As novelas silenciavam casais.

Jogos, combinações e um casamento - Josefina, 65 anos, foi, por 40 anos, uma eterna solitária nas tardes de domingo. E o esposo? Jogando bocha e baralho com amigos. Era o Playstation da época. Agora ele voltou. Passeiam, tomam chimarrão, conversam. Bom para ambos que ela o esperou.
Regina, 25 anos, casada com Raul, 28. Ele  é ligado no  RPG. O casal acordou um domingo ao mês para ele jogar. Regras e combinações amadurecem o relacionamento.
Silvia, 22 anos, casada com Baltazar, 26. Combinaram  atividades de lazer juntos. Ela no Facebook, ele no Play. Caminham, cuidam do jardim, andam de bicicleta, visitam amigos. 

Playstation/jogo: uma ameaça  para o casamento - Gente, a ameaça vem do interior da pessoa e não de fatores externos. O caminho  do vício sinaliza que algo não anda bem. Jogue seu olhar nos olhos do  companheiro(a). Eles lhe revelarão alegria ou tristeza. Jogue o amor de seu coração ao coração do outro. Cure-o!
Quando um dos cônjuges se encontra insatisfeito, infeliz com a  vida, e deixaram de construir projetos comuns e pessoais, há espaço para   compensações e fugas da realidade. O jogo virtual dá empoderamento e  resultados  imediatos, mas o jogo da vida é lento e os resultados nem sempre são os esperados.
Pessoas equilibradas, maduras, administram a vida, não obstante os ganhos e as perdas. Cuidam da mente, do coração e da vontade. Aprendem juntos a rir e a chorar.
Lembre-se: brincar é saudável.
O vício empobrece, adoece.


           Amem, brinquem. Amém! 



*Artigo publicado na revista Família Cristã, edição de janeiro de 2012.