Estourou
a paciência e agora?
“O reservatório emocional é como um saco, com capacidade-limite. Quando cheio, explode e joga nos outros o seu lixo emocional: tensões, frustrações, lembranças, dores não faladas e não protestadas, rejeições acumuladas, tudo voa furiosamente pelos ares.”

Dizia-me Maria Regina:
− Não aguento mais as brigas lá em casa. Meu filho briga comigo e eu com meu marido. Acabamos nos agredindo, os três. Não sei se continuo naquela casa por muito tempo. Que vontade de sumir!
O combate familiar é uma realidade. Encontramo-nos, emocionalmente, despreparados para o conflito e o manejo com sentimentos hostis. Somos “treinados” para lidar com pessoas alegres, amorosas e realizadas. Situações de confronto com sentimentos agressivos nos deixam taquicardíacos, cegos na razão e congelados na emoção. Na briga íntima, ficamos sem teto, nem chão.
Será que a doce harmonia familiar existe? A convivência real rompe com o mito da eterna paz e nos alfabetiza a lidar com raivas, tristezas, mágoas e frustrações. Nascemos psicologicamente imaturos. Na escola do convívio, amadurecemos ou não. Na cartilha da vida, experimentamos a polaridade dos sentimentos: tristeza e alegria, ódio e amor, realização e frustração, agressividade e doçura.
Por que brigamos? − Uma figura pode ajudar a compreender a briga. Pegue um saco de lixo cheio de entulhos. Não há mais espaço e você continua empurrando dejetos para dentro, ignorando a capacidade real do saco. Bum! Estourou! Caiu lixo por todo lado, nos pés, no chão, estrago feito. Você enfurece, xinga. Poderia, porém, ter respeitado a capacidade-limite do saco.
As brigas são assim: explode o saco da queixa, da mágoa, da raiva. O reservatório emocional é como um saco, com capacidade-limite. Quando cheio, explode e joga nos outros o seu lixo emocional: tensões, frustrações, lembranças, dores não faladas e não protestadas, rejeições acumuladas, tudo voa furiosamente pelos ares. É assim que se inicia o combate familiar. Segundo Peter Wyden, pessoas íntimas e honestas não podem ignorar seus sentimentos hostis, pois estes sentimentos são inevitáveis.
Crescer com as brigas − Pessoas íntimas brigam. Há momentos em que a batalha conjugal hostil aproxima as pessoas de forma doida, às vezes doída e machucada. Casais digladiam-se e depois têm intenso momento. A briga faz crescer quando se souber extrair, do bate-boca, informações úteis para o autoconhecimento, como:
- Identifique o lixo falado, as velhas mágoas mofadas, as raivas corrosivas verbalizadas.
- Reconheça as palavras ásperas que revelam as frustrações.
- Aceite que possui sentimentos hostis, agressivos. Segundo George R. Bach, quase todo mundo experimenta dificuldade em administrar sentimentos hostis, até para si mesmo. Isso faz parte do constrangimento que o ser humano sente em relação ao seu lado agressivo inato. É, portanto, com frequência que as pessoas transferem suas hostilidades para os outros.
- Íntimos aprendem a reconciliar. O combate familiar sadio supõe controle no confronto, cuidado no ataque, amparo na queda.
- Situações de ódio severo, agressões físicas, requerem tratamento psiquiátrico. Brigas têm limites!
- Civilize a raiva e a impulsividade.
- Preserve a espontaneidade de falar o que sente e pensa.
- Faça concessões, viabilizando uma convivência que favoreça as diferenças.
- Aprenda a ceder quando a colisão ficar acentuada. Conserve sua identidade
- Procure sempre compreender a razão da briga.
- Transforme brigas em pontes de conhecimento mútuo, crescimento e aproximação.
- Faça de sua casa um lar. Evite morar em castelos de areia.
- Torne-se íntimo e amoroso.
- Aprenda a aparar suas arestas
- Recicle seu lixo emocional.
- Acredite: “Não pode existir um relacionamento maduro entre pessoas íntimas sem que ocorra um nivelamento agressivo, sem que o parceiro coloque tudo para fora, se expresse, pergunte ao outro o que está incomodando e negocie ajustes realistas das diferenças”, Peter Wyden. Diz a sabedoria popular: uma briga por dia é bom, mantém o médico afastado.
Reze!
Perdoe! Ame! Amém!
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Ilustração:
Ricardo Corrêa
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