“A
vida continua e se renova”
Relacionamentos
frágeis
A
promessa de casamento eterno é tombada como patrimônio
antigo, as
uniões pós-modernas descuidam a intencionalidade, o
pertencimento e
a permanência
Cleusa
Thewes *
Rose
e Edu
Ela
tem 26 anos e ele, 28. Casados há dois anos, são pais de um bebê
de 10 meses. Rose saiu do emprego para cuidar do nenê. Edu passa o
dia no trabalho.
À noite, em casa, ele se esquece da família e se fecha na sua
rotina de lazer. Janta, lê, assiste a TV, tecla no Facebook. No
trabalho, ele também permanece on-line
o
tempo todo. Rose se sente descasada.
Ela tentou o diálogo conjugal, envolveu-o nas tarefas domésticas,
deixou o bebê aos seus cuidados, mas Edu apresenta dificuldades de
abdicar da solteirice e assumir o papel de parceiro conjugal
e parental. Rose vê seu casamento fragilizado. Em área de risco.
Fábio
e Thamise
Ele
tem 37 anos e ela, 30. Somam um relacionamento de quatro anos, e, há
um ano, decidiram fazer a experiência de morarem juntos. Se desse
certo, casariam. Mas, o que era para ser delicioso, virou frustração.
A experiência de viver sob o mesmo chapéu gerou expectativas
irreais, próprias de pessoas imaturas para o consórcio. Viver em
lua de mel diária, café da manhã e jantar a dois, dormir de
conchinha, passear de mãos dadas aos domingos... Não deu certo.
A
realidade mostrou-se desafiadora. Fábio é enfermeiro noturno.
Quando ele chega, ela sai. Dormir de conchinha? Como? Sozinho? Tomar
café da manhã e jantar juntos? Raramente! Passear no fim de semana?
Não. Ele trabalha sábado à noite no hospital.
Thamise
sente-se abandonada e ele, culpado. Encontram-se no limite da
tolerância conjugal e sem forças para organizar uma relação
ralada e desgastada. Convivem num clima de cobranças, desculpas e
confrontos. Numa coisa, entretanto, concordam: “Perdemos a atração,
o amor... Acabou!”.
E
eu digo: o casamento apenas começou! Façam novos arranjos de
convivência.
Divórcios
Pesquisas
focadas nas famílias confirmam a fragilidade e a inconsistência dos
relacionamentos. Isso não me surpreende nem um pouco. É a realidade
dos consultórios terapêuticos. Dados do Instituto Brasileiro de
Geo- grafia e Estatística (IBGE) constatam que os índices de
divórcios aumentaram 45,6% entre 2010 e 2011. O censo observou que
mais de um terço das uniões
são apenas de convivência, sem casamentos e com duração de cinco
a nove anos. Segundo sociólogos, a sociedade ocidental contemporânea
integra e contempla nos relacionamentos a possibilidade da
dissolução. A promessa de casamento eterno ficou no passado.
A
vida familiar configura-se pelo aumento de uniões livres, sem
casamento. Divórcios, famílias monoparentais, as quais um dos dois
assume a responsabilidade pelos filhos. Filhos no domicílio sem um
dos pais ou nascidos fora do casamento. Famílias compostas e
recompostas, guarda de filhos de uniões anteriores. Vários fatores
sociais, interculturais e valorativos
originam novas configurações conjugais e familiares.
Precisa-se,
sim, consolidar redes internas de fortalecimento emocional,
espiritual, as quais nutram a sustentabilidade dos laços conjugais e
parentais, pois o ser humano não pode permanecer na área de risco e
no vazio desamoroso.
Fragilidade
conjugal
A
vulnerabilidade conjugal ocorre no contexto da transformação e
mudança de valores pelo qual a sociedade transita. Aprendemos que a
construção familiar ocorre a partir da conjugabilidade (homem,
mulher, casamento). Novas modalidades de convivência surgem. Hoje se
casa contando com a possibilidade da dissolução logo adiante. O
casamento é apenas uma experiência etiquetada com prazo de validade
reduzido, limitando-se ao tempo do prazer. Isso ocorre porque a
sociedade perdeu o rumo e, com ela, o ser humano também o perdeu. A
coisificação dos relacionamentos é apenas uma das consequências
da perda do rumo. Há outras, igualmente muito sérias, como drogas e
criminalidade. A promessa de casamento eterno é tombada como
patrimônio antigo. As uniões pós-modernas descuidam a
intencionalidade, o pertencimento e a permanência.
Nos
relacionamentos abertos, a traição é regra acordada e consentida.
Há, evidentemente, muitas variáveis favorecendo a desestabilização
dos relacionamentos. Nos fatos narrados, veem-se casais jovens
fragilizados, girando em círculo na área de risco, sem estrutura
emocional para consolidarem a união. As diferenças pessoais são
confrontadas no combate, muitas vezes irracional. A passionalidade
vítima do
amor, e a desconfiança aniquila a razão. A possessividade
apodera-se de um e de outro. O individualismo subestima a parceria. A
erotização desordenada esvazia a sacralidade do corpo. A ausência
de espiritualidade empobrece a significância do amor.
Os
sociólogos diagnosticam que quanto mais forte é a adesão ao
sistema de valores que fortalece e sustenta o indivíduo na busca de
si mesmo, na realização plena de sua autonomia, mais o casal é
frágil. A busca da felicidade pessoal, em detrimento da conjugal,
não se acompanha simplesmente da negação da disciplina e do
controle sexual, ela demanda, na verdade, atos de transgressão
(adultério, traição), em nome da satisfação pessoal.
Bem,
creio que a fé, a esperança e o amor, atributos divinos, alicerçam
nossas famílias. Cabe a nós cultivá-los.
Mãe
do Céu, assim seja. Amém!