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quarta-feira, 7 de agosto de 2013


Presas ao tempo-relógio, as famílias se esquecem de aproveitar o tempo plenitude-encontro, aquele que permite a troca de afetos e o conforto do cuidado.

“A única falta que terá / será deste tempo que infelizmente... / não voltará mais.” (Mário Quintana)

 Vivemos numa época na qual constantemente nos cobramos a falta de tempo. O passar dos dias nos torna impotentes diante dos ponteiros acelerados do relógio. Damo-nos conta de que o tempo exerce seu poder. Ele impõe limites, coordena severamente compromissos e repousos, administra o tempo-coração, potencializa a soberania do cronos (tempo-relógio) e “impotencializa” o tempo kairós (tempo plenitude-encontro). 

O tempo horas-minutos impera com excesso de tarefas, nem sempre prioritárias, urgentes ou necessárias. Isso pode dificultar o equacionamento de nossas atividades ao tempo real disponível. Então extrapolamos. Avolumamos listas de afazeres, desafiamos um tempo que se rebela. Guerreamos contra o tempo, querendo dar conta de tudo num só tempo. Sentimo-nos dominando o tempo. Não obstante, subordinam-nos ao controle do tempo e do sem-tempo. Observemos a fala do sem-tempo: “Desculpe não lhe visitar. Ando sem tempo. Filho, não fique triste, papai está trabalhando. Hoje ele não tem tempo para brincar com você”.

Amigos partem, ausentamo-nos da despedida, pois eles morrem num tempo sem tempo. Imprevistos e surpresas reivindicam o tempo do sem-tempo. Filhos nascem, crescem, adoecem. Amigos chegam e partem sem que os priorizemos nas nossas agendas cronometradas por um sem-tempo de sentimentos. O tempo passa sem tempo no tempo do cuidado.

Síndrome da mecanização – A humanidade sofre a síndrome da mecanização. Carregamos este sintoma há 200 anos, desde o surgimento da Era Industrial. Mecanizar a produção foi necessário, trouxe progressos, inovações, avanços e facilidades à vida moderna. Mas a humanidade entrou neste sistema, no qual máquinas não podem perder tempo. Pessoas correm o risco de se neurotizarem. Pais e filhos não são máquinas, precisam aprender a se perderem no tempo que os vincula. Hoje, até as cozinhas familiares são automatizadas, e o pão nosso de cada dia produzido em vários sabores ocupa menos tempo da mãe. A máquina o faz.

Crianças manejam os aparelhos digitalizados, dispensando a companhia dos pais para estourar o grão de milho, transformá-lo em pipoca. Máquinas, porém, não elogiam os filhos. Máquinas aquecem o leite da meninada, mas não agradecem. No forno micro-ondas, filhos produzem o lanche da tarde, o brigadeiro. Mas o que fortifica suas vidas é o tempo do carinho, e este a máquina não dá.

Sem dúvida, a máquina facilitou a vida, mas agora é necessário reaprender a perder tempo com os relacionamentos, repensar o que nos diz o jornalista e conferencista Ciro Marcondes Filho: “Vamos perder aquilo que nos escraviza: o tempo. Trata-se de agora em diante, e para o resto de nossas vidas, iniciar uma nova ética: a de perder tempo. Perder tempo para ganhar a vida”.

Cuidado do tempo – Ano novo, novo ano para cuidar de forma nova do tempo. Incrementar o tempo com um novo projeto, qualificando a vida, a família e a missão.  Você já abriu em sua Agenda 2011 o tema: Tempo de cuidado do cuidado do tempo?

Ainda há tempo! Sensibilize-se cotidianamente para este inovador espaço-tempo, o qual modificará seu existir e seus relacionamentos. O sem-tempo esvazia olhares, diálogos, abraços e beijos. O sem-tempo nos impede de priorizar o assessoramento aos filhos, conhecer suas necessidades, dúvidas e escolhas. Filhos são seres de escuta, de cuidado, mesmo já adultos.

Dizia-me a jovem adolescente, triste e apagada: “Faz três semanas que falo para minha mãe que me sinto cansada, desanimada, com dores de cabeça. Ela parece não me ouvir, só pensa no trabalho”. Responde a mãe, justificando-se: “Filha, a mãe precisa trabalhar para comprar as coisas para você...”. A explicação da mãe não convenceu a jovem menina, nem os presentes compensam a necessidade de cuidados. Ela estava adoecendo para buscar tempo-cuidado de mãe.

Atenção, pais: filhos muitas vezes adoecem, tornam-se problemas, drogam-se para pedir o tempo dos pais ausentes. O sem-tempo habituou famílias a resolverem compromissos e conflitos de forma virtual, no qual baratos pacotes de torpedos acrescentam soluções a um cotidiano de corre-corre. Em momento algum se tira o mérito destes meios que facilitam a vida hipermoderna, pois nem sempre a família consegue se encontrar durante o dia para combinações e informações rápidas. Veja bem: combinações e informações rápidas. Já os relacionamentos familiares merecem o tempo kairós, cuja experiência traz satisfação e proximidade.

Pais, o tempo perdido com os filhos se tornará um oikos, ou seja, um espaço de encontro do ser, espaço este que restabelece e privilegia a cura dos sentimentos, o crescimento espiritual e o cuidado. O poeta Mário Quintana deixa-nos uma fala pertinente e sábia sobre o tempo: “A vida são deveres que trouxemos para fazer em casa. / Quando se vê, já são seis horas. Quando se vê, já é sexta-feira. Quando se vê, já é Natal. Quando se vê, já terminou o ano. / Se me fosse dado um dia, uma oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.

Deus Pai, Senhor do tempo kairós, abençoa-nos. Amém!

Mãe de todos os homens, cuide de nós. Amém

terça-feira, 30 de julho de 2013

Grupo CHARALINA - Projeto Regina Comunidade, comemorando o dia dos 

Avós.

Grupo CHARALINA - Projeto Regina Comunidade, comemorando na festa de 

São João.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

A vida continua e se renova”


Relacionamentos frágeis
A promessa de casamento eterno é tombada como patrimônio 

antigo, as uniões pós-modernas descuidam a intencionalidade, o 

pertencimento e a permanência

Cleusa Thewes *


Rose e Edu
Ela tem 26 anos e ele, 28. Casados há dois anos, são pais de um bebê de 10 meses. Rose saiu do emprego para cuidar do nenê. Edu passa o dia no trabalho. À noite, em casa, ele se esquece da família e se fecha na sua rotina de lazer. Janta, lê, assiste a TV, tecla no Facebook. No trabalho, ele também permanece on-line o tempo todo. Rose se sente descasada. Ela tentou o diálogo conjugal, envolveu-o nas tarefas domésticas, deixou o bebê aos seus cuidados, mas Edu apresenta dificuldades de abdicar da solteirice e assumir o papel de parceiro conjugal e parental. Rose vê seu casamento fragilizado. Em área de risco.


Fábio e Thamise
Ele tem 37 anos e ela, 30. Somam um relacionamento de quatro anos, e, há um ano, decidiram fazer a experiência de morarem juntos. Se desse certo, casariam. Mas, o que era para ser delicioso, virou frustração. A experiência de viver sob o mesmo chapéu gerou expectativas irreais, próprias de pessoas imaturas para o consórcio. Viver em lua de mel diária, café da manhã e jantar a dois, dormir de conchinha, passear de mãos dadas aos domingos... Não deu certo.
A realidade mostrou-se desafiadora. Fábio é enfermeiro noturno. Quando ele chega, ela sai. Dormir de conchinha? Como? Sozinho? Tomar café da manhã e jantar juntos? Raramente! Passear no fim de semana? Não. Ele trabalha sábado à noite no hospital.
Thamise sente-se abandonada e ele, culpado. Encontram-se no limite da tolerância conjugal e sem forças para organizar uma relação ralada e desgastada. Convivem num clima de cobranças, desculpas e confrontos. Numa coisa, entretanto, concordam: “Perdemos a atração, o amor... Acabou!”.
E eu digo: o casamento apenas começou! Façam novos arranjos de convivência.


                                                                                                                 Divórcios

   Pesquisas focadas nas famílias confirmam a fragilidade e a inconsistência dos relacionamentos. Isso não me surpreende nem um pouco. É a realidade dos consultórios terapêuticos. Dados do Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE) constatam que os índices de divórcios aumentaram 45,6% entre 2010 e 2011. O censo observou que mais de um terço das uniões são apenas de convivência, sem casamentos e com duração de cinco a nove anos. Segundo sociólogos, a sociedade ocidental contemporânea integra e contempla nos relacionamentos a possibilidade da dissolução. A promessa de casamento eterno ficou no passado.
A vida familiar configura-se pelo aumento de uniões livres, sem casamento. Divórcios, famílias monoparentais, as quais um dos dois assume a responsabilidade pelos filhos. Filhos no domicílio sem um dos pais ou nascidos fora do casamento. Famílias compostas e recompostas, guarda de filhos de uniões anteriores. Vários fatores sociais, interculturais e valorativos originam novas configurações conjugais e familiares.



Precisa-se, sim, consolidar redes internas de fortalecimento emocional, espiritual, as quais nutram a sustentabilidade dos laços conjugais e parentais, pois o ser humano não pode permanecer na área de risco e no vazio desamoroso.



Fragilidade conjugal
A vulnerabilidade conjugal ocorre no contexto da transformação e mudança de valores pelo qual a sociedade transita. Aprendemos que a construção familiar ocorre a partir da conjugabilidade (homem, mulher, casamento). Novas modalidades de convivência surgem. Hoje se casa contando com a possibilidade da dissolução logo adiante. O casamento é apenas uma experiência etiquetada com prazo de validade reduzido, limitando-se ao tempo do prazer. Isso ocorre porque a sociedade perdeu o rumo e, com ela, o ser humano também o perdeu. A coisificação dos relacionamentos é apenas uma das consequências da perda do rumo. Há outras, igualmente muito sérias, como drogas e criminalidade. A promessa de casamento eterno é tombada como patrimônio antigo. As uniões pós-modernas descuidam a intencionalidade, o pertencimento e a permanência.
Nos relacionamentos abertos, a traição é regra acordada e consentida. Há, evidentemente, muitas variáveis favorecendo a desestabilização dos relacionamentos. Nos fatos narrados, veem-se casais jovens fragilizados, girando em círculo na área de risco, sem estrutura emocional para consolidarem a união. As diferenças pessoais são confrontadas no combate, muitas vezes irracional. A passionalidade vítima do amor, e a desconfiança aniquila a razão. A possessividade apodera-se de um e de outro. O individualismo subestima a parceria. A erotização desordenada esvazia a sacralidade do corpo. A ausência de espiritualidade empobrece a significância do amor.
Os sociólogos diagnosticam que quanto mais forte é a adesão ao sistema de valores que fortalece e sustenta o indivíduo na busca de si mesmo, na realização plena de sua autonomia, mais o casal é frágil. A busca da felicidade pessoal, em detrimento da conjugal, não se acompanha simplesmente da negação da disciplina e do controle sexual, ela demanda, na verdade, atos de transgressão (adultério, traição), em nome da satisfação pessoal.
Bem, creio que a fé, a esperança e o amor, atributos divinos, alicerçam nossas famílias. Cabe a nós cultivá-los.

Mãe do Céu, assim seja. Amém!

domingo, 21 de julho de 2013


Palestra dia 01/08/2013 as 20:30 horas na Paróquia Nossa Senhora do Caravágio.

A revista Família Cristã irá comigo.








Mãe 24 horas
Mãe aconchega, mas também precisa ser aconchegada, mãe embala, mas precisa ser embalada, mãe faz, mas precisa ser ajudada, mãe é forte, mas também é frágil
Cleusa Thewes *

Neusa, 54 anos
Mãe de Nina, 25 anos, e de Alex, 29, que ainda residem com os pais. Neusa é a típica mãe de dois empregos: administra a empresa familiar e sua casa. Nesta, esmera-se incansavel­mente para deixar tudo em ordem, abastecida, roupas limpas e no lugar, refeições à mesa. E, no pouco tempo que lhe resta, ainda remove as teias de aranha do teto e cuida do jardim. Outro dia ela sofreu um apagão: esqueceu-se de comprar arroz e café. Com tantas tarefas sobre si, era lógico que estivesse perdoada da atrapa­lhada. A filha lhe disse: “Mãe, você está fazendo coisas em excesso, está sobrecarregada”.

Márcia, 26 anos
Mamãe da pequena Luiza de 9 meses. Com a chegada do bebê, a vida de Márcia girou em 360 graus. Entre o emprego e a filha, escolheu a filha. Assim, por enquanto, abdicou das atividades profissionais para se dedicar à filha. O esposo compreen­deu o papel imprescindível da mãe no cuidado, na educação e no fortaleci­mento dos hábitos iniciais do pequeno e indefeso ser.
Mas, mesmo não trabalhando fora de casa, Márcia não aguentou ser mãe 24 horas. Cansada da rotina, chamou o pai à responsabilidade. Agora, quando pode, ele cuida da filha. A mãe aproveita esses raros momentos para descansar, ler, caminhar, tomar chimarrão e bater um papo com as amigas. Com esse novo rearranjo com o esposo, Márcia ficou mais tranquila e feliz.

Luci, 37 anos
  Luci tem André, de 13 anos, e Lucas, de 7. No divórcio assumiu a guarda dos garotos. Durante o dia, Luci trabalha, e os meninos estudam. À noite, dedica-se aos filhos. Em fins de semanas alternados, eles ficam na companhia do pai. Ela aproveita esse escasso tempo para cuidar de si: descansa, passeia, estuda, namora, reza, organiza a casa... Luci reco­nhece a importância de ficar só para recarregar a bateria materna. Dessa forma, embora divorciados, os pais administram bem o que sobrou do casamento desfeito, e a vida deles e a dos filhos vão bem.







Vinte e quatro horas
  Existem alguns fatores que concor­rem para este exagero. Sim, exagero. As mulheres do século 21 ainda legitimam com atitudes o legado internalizado de uma cultura ma­chista. O homem provê, e a mulher procria. Essa ideia arcaica traz implícitas as tarefas de cada um no casamento. E a casa faz parte das tarefas da esposa e mãe. Cabe-lhe dar conta de tudo sozinha, sem se queixar. Faxinar até instantes antes de parir sorrindo. Aliás, o esposo machista quer a esposa sorrindo sempre, afinal ela é a rainha do lar. Será este o papel da mãe: esgotar-se, ultrapassar os próprios limites e, como se isso não bastasse, ainda ouvir reclamações de que anda irritada demais?
Felizmente a sociedade está mu­dando. O censo de 2010 revelou índices de aumento significativo de mulheres cuidadoras e provedoras ao mesmo tempo, nos lares brasileiros. Muitas delas têm domésticas. As outras – que não têm domés­ticas – disponibilizam uma força interior capaz de superar mãos, braços e pernas para cuidarem das desordens do lar. Logicamente nem sempre são eficientes. Nem isso pode ser pedido a elas.
Já o afeto elas distribuem sem os limitadores ponteiros do relógio. Na escuta, o coração substitui as orelhas. Levando o sentimento direto ao coração, ganham tempo. Esquecendo as formalidades, as reuniões agendadas, aproveitam as oportunidades que surgem para desempenhar o papel de mãe. Para a troca de afeto, os conselhos, os pu­xões de orelha, não tem mais hora. Ocorrem quando têm de ocorrer e não em um momento escolhido e agendado.

Maternagem e qualidade de vida
Mãe precisa de qualidade de vida. O que é, porém, qualidade de vida? É cuidar-se! Permitir-se deitar na rede, ver o pôr do sol, alimentar-se com calma, ir à manicure, fazer atividades e escolhas que lhe trazem satisfa­ção. Qualidade de vida no lar exige repartição de tarefas e colaboração de todos os membros. Os filhos au­xiliam no que podem. Mas também momentos de descontração fazem parte da qualidade de vida familiar. Ir ao supermercado, o churrasco aos domingos, crianças tomadas banho à moda de pai na suíte do casal, saindo molhadas corredores afora. É saudável quando a mãe se permite ser forte ou frágil, ani­mada ou cansada, alegre ou triste, sorridente ou chorosa, falante ou silenciosa.
É bom a mãe se abster da varinha do poder, permitindo-se ser cuidada e afagada. Olhar-se no espelho e iden­tificar estrelas em seus olhos. Amar-se para irradiar amor e bênçãos.

Breve balanço


  “Quando os filhos são embalados pelo soninho da noite, e as estrelas repousam lá longe, no alto, no manto do céu, ou quando o gotejar da chuva fina vira canção noturna de ninar, acolha, ó mãe, na ma­drugada, sua dor ou sua euforia, chore ou sorria, tornando-se outra vez criança e deixe-se balançar no colo aconchegante da Mãe Maria, ela lhe ensinará a ser mãe nos de­safios de cada dia, na guerra e na paz. Amém! Minha bênção de mãe para cada mãe.’’

sábado, 22 de junho de 2013


Casamentos: duas pessoas inteiras compartilhando a vida. Riquíssimo de sabedoria o texto abaixo.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

A revista Família Cristã já faz parte da família brasileira. Ela forma e informa.






quinta-feira, 20 de junho de 2013

Viva a vida após os 60 anos


“Assim como o sol recolhe seus raios para iluminar a si mesmo, também a pessoa idosa deve ir para dentro de si mesma, voltar-se para seu eu e descobrir a riqueza de seu próprio íntimo”
(Anselm Grün)
Romeus e Suzanas, amem e vivam! Esta história pode ser a sua…
Romeu, 63 anos− Pai de família e advogado bem-sucedido. Começou a trabalhar aos 15 anos. Já nesta idade objetivou conquistar estabilidade para uma vida tranquila. Motivado em seus propósitos, estudou, trabalhou e adquiriu merecidopatrimônio. Concedeu à família um padrão de vida confortável. Patrocinou os estudos dos filhos, oportunizando-lhes conquistas profissionais.
Muito trabalhou Romeu. Atingiu a estabilidade. Mas o tempo, esse implacável devorador dos séculos, não parou. Os minutos viraram horas, as horas; dias; e a soma destes, anos. Os cabelos brancos, o andar devagar, o rosto maduro revelaram-lhe que sua vida havia percorrido anos. Então se percebeu pensando: “Tenho 63 anos, preciso desacelerar o ritmo profissional, já adquiri o que queria. Mas fazer o que, onde e como? Meus amigos, aposentados, deprimiram-se.
Temo a depressão, o vazio. Sinto-me cego, perdido. Como continuar vivo, feliz e produtivo?”.
A virada da idade o assustou, a crise existencial o balançou. Seu coração contemplou sofrimento, dúvidas e perdas.
Suzana, 64 anos − Professora aposentada. Habilidosa no inglês e na escrita. Viajou pelo mundo. Hoje, sente-se cansada, desmotivada, não persistente, descomprometida, deixando tarefas inconcluídas: livros iniciados e engavetados, telas pintadas pela metade, seu grupo de dança, abandonou-o…
Ela se questiona: – Valerá a pena concluir alguma coisa?
Sente-se improdutiva, desanimada, preguiçosa, sem foco. Por quê? Falta de aceitação da velhice; despreparação para viver a terceira idade.
Projeto de vida atualizado − Aos 60 anos inicia-se o caminho do entardecer. No ocaso, o sol se põe, recolhe-se, adormecendo para um novo amanhecer.
Romeu e Suzana continuarão nascendo, a cada manhã, se descobrirem sua potencialidade e se acolherem, no ocaso, suas fragilidades. Reciclar a vida é refazer o projeto da continuidade, escolhendo viver cada vez mais com qualidade, cuidando do lado físico, emocional, mental e espiritual.
Passear, estudar, ouvir música, tocar um instrumento musical, conversar, ler e silenciar. Exercitar a memória. Realizar agora o que antes não deu tempo. A vida inicia aos 60. Faça deste tempo um tempo de alegria. Desafie o desconhecido, liberte-se da repetição. Inove!
Aprenda a contar histórias. Há crianças esperando você. ”Olhai como crescem os os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam” (Mt 6,28). “Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem e nem guardam em celeiros” (Mt 6,26).
Anselm Grun, monge beneditino, alerta de que não adianta só tratar as pessoas com remédios, sendo também necessário auxiliá-las a reencontrar o sentido da vida. Falar de saúde da alma na sociedade consumista afronta as fileiras do ter, onde existências humanas se esvaziam da significância do ser.
A saúde da alma − O que é a saúde da alma? É um bem-estar interior; é sentir no espírito a sonoridade e a veracidade das Bem Aventuranças:”Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,8-9).
São saudáveis as pessoas que pautam suas vidas na fé, na esperança e no amor. Acolhem o sofrimento, choram, tornam-se discípulos de situações adversas e olham a vida como sua mestra: “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4).
Romeu, Suzana e você, leitor ou leitora, ouçam o toque de recolher do Mestre Jesus: Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido” (Mt 6,6), eis o local sagrado da alma ali encontrarão conforto e a luz para a escuridão do ocaso.
Romeu tem medo do ocaso e sofre; Suzana parou no ocaso e está deprimida; ambos precisam pedir nova aurora para suas vidas: “Pedi e vos será dado” (Mt 7,7). A terceira idade é a montanha do sábio. O que é ser sábio? Sábio vem de saber, e saber, por sua vez, tem a ver com olhar em profundidade. Assim, podemos dizer que sábio é quem tem conhecimento profundo.
Romeus e Suzanas, amem e vivam!

Tornem-nos felizes, Mãe e Pai da Alegria. Amém

quarta-feira, 19 de junho de 2013

'As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.'

Epicuro



-  Faz sentido e diferença: acolher a própria vida como um todo.

terça-feira, 18 de junho de 2013


Estourou a paciência e agora?

“O reservatório emocional é como um saco, com capacidade-limite. Quando cheio, explode e joga nos outros o seu lixo emocional: tensões, frustrações, lembranças, dores não faladas e não protestadas, rejeições acumuladas, tudo voa furiosamente pelos ares.”
 
Lá em casa tem brigas, sabia?!” Para o escritor Peter Wyden, a concepção de que, no lar, um clima emocional desprovido de brigas e tensões trará uma autêntica harmonia não passa de um mito despropositado, nascido da ignorância das realidades psicológicas dos relacionamentos humanos.

Dizia-me Maria Regina:
− Não aguento mais as brigas lá em casa. Meu filho briga comigo e eu com meu marido. Acabamos nos agredindo, os três. Não sei se continuo naquela casa por muito tempo. Que vontade de sumir!

O combate familiar é uma realidade. Encontramo-nos, emocionalmente, despreparados para o conflito e o manejo com sentimentos hostis. Somos “treinados” para lidar com pessoas alegres, amorosas e realizadas. Situações de confronto com sentimentos agressivos nos deixam taquicardíacos, cegos na razão e congelados na emoção. Na briga íntima, ficamos sem teto, nem chão.

Será que a doce harmonia familiar existe? A convivência real rompe com o mito da eterna paz e nos alfabetiza a lidar com raivas, tristezas, mágoas e frustrações. Nascemos psicologicamente imaturos. Na escola do convívio, amadurecemos ou não. Na cartilha da vida, experimentamos a polaridade dos sentimentos: tristeza e alegria, ódio e amor, realização e frustração, agressividade e doçura.
Por que brigamos? − Uma figura pode ajudar a compreender a briga. Pegue um saco de lixo cheio de entulhos. Não há mais espaço e você continua empurrando dejetos para dentro, ignorando a capacidade real do saco. Bum! Estourou! Caiu lixo por todo lado, nos pés, no chão, estrago feito. Você enfurece, xinga. Poderia, porém, ter respeitado a capacidade-limite do saco.

As brigas são assim: explode o saco da queixa, da mágoa, da raiva. O reservatório emocional é como um saco, com capacidade-limite. Quando cheio, explode e joga nos outros o seu lixo emocional: tensões, frustrações, lembranças, dores não faladas e não protestadas, rejeições acumuladas, tudo voa furiosamente pelos ares. É assim que se inicia o combate familiar. Segundo Peter Wyden, pessoas íntimas e honestas não podem ignorar seus sentimentos hostis, pois estes sentimentos são inevitáveis.
Crescer com as brigas − Pessoas íntimas brigam. Há momentos em que a batalha conjugal hostil aproxima as pessoas de forma doida, às vezes doída e machucada. Casais digladiam-se e depois têm intenso momento. A briga faz crescer quando se souber extrair, do bate-boca, informações úteis para o autoconhecimento, como:
  • Identifique o lixo falado, as velhas mágoas mofadas, as raivas corrosivas verbalizadas.
  • Reconheça as palavras ásperas que revelam as frustrações.
  • Aceite que possui sentimentos hostis, agressivos. Segundo George R. Bach, quase todo mundo experimenta dificuldade em administrar sentimentos hostis, até para si mesmo. Isso faz parte do constrangimento que o ser humano sente em relação ao seu lado agressivo inato. É, portanto, com frequência que as pessoas transferem suas hostilidades para os outros.
  • Íntimos aprendem a reconciliar. O combate familiar sadio supõe controle no confronto, cuidado no ataque, amparo na queda.
  • Situações de ódio severo, agressões físicas, requerem tratamento psiquiátrico. Brigas têm limites!
  • Civilize a raiva e a impulsividade.
  • Preserve a espontaneidade de falar o que sente e pensa.
  • Faça concessões, viabilizando uma convivência que favoreça as diferenças.
  • Aprenda a ceder quando a colisão ficar acentuada. Conserve sua identidade
  • Procure sempre compreender a razão da briga.
  • Transforme brigas em pontes de conhecimento mútuo, crescimento e aproximação.
  • Faça de sua casa um lar. Evite morar em castelos de areia.
  • Torne-se íntimo e amoroso.
  • Aprenda a aparar suas arestas
  • Recicle seu lixo emocional.
  • Acredite: “Não pode existir um relacionamento maduro entre pessoas íntimas sem que ocorra um nivelamento agressivo, sem que o parceiro coloque tudo para fora, se expresse, pergunte ao outro o que está incomodando e negocie ajustes realistas das diferenças”, Peter Wyden. Diz a sabedoria popular: uma briga por dia é bom, mantém o médico afastado.
Reze! Perdoe! Ame! Amém!


* Ilustração: Ricardo Corrêa

segunda-feira, 17 de junho de 2013

    O LUTO DOS PAIS

Existir supõe aprendizados, e, mesmo nas mortes trágicas e precoces, devemos acreditar que aquele que partiu realizou e aprendeu o que deveria ter realizado e aprendido

 “Se já não podemos vê-los nem ouvi-los com nossos sentidos, podemos, entretanto,  percebê-los com o nosso coração. Eles estão mais próximos de nós do que quando estavam nesta vida”, escreve o médico Evaldo d’Assumpção,especialista em tanatologia.


O rio o afogou

Rita perdeu o filho de 19 anos. Nas águas do rio, ele afogou seus sonhos e projetos e inundou o coração da mãe de eterna tristeza. Inconsolada, Rita se pergunta: “Por que a vida levou meu filho?”.


Uma bala o apagou

Luiz e Tânia, pais de Roger, 25 anos. Envolvido com drogas, ele foi morto dias antes do Natal.
A mãe desabafa: “Dói demais. Ele tinha problemas, andava por caminhos obscuros, não obstante, era um filho afetuoso. Não aceito tamanha tragédia...”

O fogo os asfixiou

A recente tragédia, em Santa Maria (RS), abalou o Brasil e o mundo. Até o momento, morreram 236 jovens, asfixiados e queimados. Divertiam-se, e o inesperado incêndio os arrancou de forma trágica do coração da vida, da sociedade, do convívio dos pais. 

Ganhos e perdas

A vida transita num zigue-zague entre ganhos e perdas. Ao nascermos ganhamos a vida independente, mas, perdemos o aconchego e a proteção do útero materno e, no mesmo instante, começamos o desafio derradeiro: respirar ou morrer. Há nisso uma contradição? Não! Muito pelo contrário, esse é o projeto de vida que o Altíssimo nos deu: Viver para morrer e morrer para viver. São duas faces da mesma realidade.

A tríade da existência biológica, nascer, viver e morrer, determina tempos diferentes no tempo de cada Ser. Tentamos viver como se a morte não existisse, ou, talvez, como se possuíssemos o controle da vida.

Mas a morte física é soberana, e, quando vem, nos desperta para a impermanência na matéria, para a finitude do visível, mostrando que a vida na terra é somente uma estação e não o ponto de chegada. E, para não nos assustar demasiadamente, Deus a tornou imprevisível.

Nascemos subordinados ao espírito, cuja morada definitiva é a eternidade. Desde pequenos nos mostram a flor que murcha e morre; o pássaro que sucumbe. Com esses exemplos, querem-nos fazer compreender a dinâmica da vida. Lição difícil! Não é mesmo? Viver é bom, mas dói, ao pensarmos no processo de transformação que ela impõe.


A vida e a morte, aparentemente ambíguas, parecem envolver um grande jogo de ganhos e perdas.  Em verdade, porém, se crermos e vivermos com fé, esperança, amor, teremos apenas ganhos. 

Lutos

O luto é a dolorosa experiência das perdas terrenas.  Provoca sofrimento físico, emocional e espiritual. As alterações físicas podem ser: dores de cabeça, disfunções digestivas e intestinais, fraquezas, desânimos; tristeza, medo, raiva, angústia, choros incessantes, e até depressão, são manifestações de dores emocionais.  Nas perdas trágicas, poderão surgir sintomas de pânico. O luto passa por etapas, durando em média dois anos. Mas isso é apenas uma estimativa. Cada pessoa tem o tempo de elaboração conforme sua condição emocional.

A pessoa enlutada precisa viver as fases do luto. O que auxilia é ter alguém para conversar sobre a dor. Os grupos de apoio ao luto são terapêuticos e por isso recomendados. Se os sintomas debilitarem demais é necessário recorrer aos cuidados médicos. Deve-se ter amorosidade, paciência, escuta e outros cuidados com quem sofre.

O tempo de morrer

Durante a vida até conseguimos planejar ter um filho, mas a morte, que está fora do nosso controle, põe termo ao nosso projeto.  E então concluímos que ela veio fora de hora.  Na opinião do médico Evaldo, isto ocorre “porque ainda estamos limitados ao espaço e ao tempo e temos valores extremamente pequenos e medíocres, mesmo em relação ao verdadeiro sentido da vida”.

Medimos a vida pelo fazer e conquistar. A lógica do existir supõe aprendizados, e, mesmo nas mortes trágicas e precoces, apesar de toda a dor de quem fica, devemos buscar crer que aquele que partiu realizou e aprendeu o que deveria ter realizado e aprendido aqui na terra. Ele cumpriu sua missão terrena. Devemos sempre crer que morrendo a vida continua e se renova e que “O que é visível é passageiro,  mas o que é invisível é eterno.” (2 Cor 4,18).

Jesus passou sua vida explicando que o Pai quer os filhos junto de si, que o seu amor e sua misericórdia são grandes e acontecem. Ele dizia a Jerusalém: “Quantas vezes eu quis juntar teus filhos, como uma galinha que reúne os pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste” (Lc 13,3-4).

Quando a expressão biológica morre, a individualidade se transforma e continua. Na individualidade, ainda estão vivos os entes queridos que partiram e vivem numa realidade  que a maioria de nós desconhece, porque ultrapassa os limites da pura compreensão humana. Acreditando ou não, eles estão aqui, juntinhos de nós.

Mãe, cuide da dor dos pais. Amém!

domingo, 16 de junho de 2013

REDE DE INTRIGAS E AMOR

O Facebook não é terapeuta, tampouco conselheiro de desilusões, mas pode permitir momentos de alegria e reencontros que ultrapassam preconceitos, fronteiras, culturas e idiomas 

Criado em 2004 por Mark Zuckerberg, o Facebook é uma rede social de comunicação via internet. A revolução tecnológica midiática possibilitou o aumento de internautas. Com 39 milhões de pessoas conectadas, o Brasil é o sexto país no ranking de usuários da internet, segundo o Guia Mundial de Estatísticas. No Facebook, as pessoas interagem virtualmente. Em segundos, o mundo sabe se você casou ou descasou, com quem e onde dormiu. Ventos tecnológicos e muito velozes espalham pela rede a pauta de sua vida, às vezes com o seu consentimento, e outras tantas sem ele. Há quem poste desencantos e crises pessoais. Os oriundos de relacionamentos sem fronteiras extrapolam, expondo aos ares folhas secas de uma vida conjugal fragilizada. Há os que usam o Facebook como arma de intriga, para atacar, queixar e mentir, sem se aperceberem que tudo isso, na internet, polui uma imagem. Há, logicamente, gente que usa a internet de forma adequada, saudável, positiva, preservando-se e preservando o próximo. 

Lívia e Tom
Casados há nove anos. O casal tinha um projeto: ter filhos. Com parceria e trabalho, prosperaram, adquirindo bela casa e carro. Porém, uma atitude de Tom abalou o casamento e perturba severamente a esposa. Lívia descobriu, no Facebook dele, seu perfil de solteiro. Ele se passa por solteiro e se disponibiliza para baladas e encontros amorosos com meninas pós-adolescentes. A conclusão de Lívia foi óbvia: ele a substituiu pela internet e por encontros marcados através da rede. 

Régis, 27 anos
Há dois meses, encerrou um noivado incompatível. Logo depois, a ex-noiva postou, na rede social, fotos declarando-se solteira e feliz. E não mais parou. Diariamente, posta mensagens depreciativas, desqualificando o relacionamento findo. Régis, embora magoado, não nutre a rede de intrigas e decidiu proteger-se, por ora, deletando o Facebook. 

Liani, filósofa
Considera o Facebook uma oportunidade ao crescimento psicossocial e cultural. Posta pensamentos e reflexões ressignificando a leitura. Sugere títulos de livros e convoca a “dança dos dedos” a folhearem páginas, apaixonarem-se pelas letras, para descobrirem, no encontro com o amigo de cabeceira, o livro, a poesia das palavras. Sente-se gratificada pelas inúmeras pessoas que curtem seu Face.

Nana, catequista
Criou um Facebook com os catequizandos. O foco é a interação, a partilha e o conhecimento da vida de Jesus. Catequizandos e familiares estão receptivos à experiência e juntos descobriram que Jesus Cristo e Paulo Apóstolo têm um Facebook e que há uma Capela Virtual,  presente do céu, no Face, possibilitando encontro de orações e interações espirituais. 

Rompimentos e aproximações
Na história de Lívia e Tom, a mentira escancarou uma solteirice idealizada e desrespeitosa, disponibilizando o rapaz para relacionamentos extraconjugais. Crises no casamento são comuns, mas devem  ser tratadas com prudência e cuidado, respeitando o espaço sagrado da aliança conjugal e, se necessário, aconselhar-se com um  profissional habilitado. No caso de Régis, observam-se mágoas não verbalizadas pela ex-noiva, a qual, tão logo terminou o relacionamento, utiliza o Facebook como moleque de recados, panfletando  indiretas e fotos de postiça felicidade. O Facebook não é terapeuta, tampouco conselheiro de desilusões. 

Mágoas, decepções, frustrações e outros sofrimentos – consequências de relacionamentos, rompidos ou não – devem ser identificados e atendidos. Havendo rompimento, haverá o luto das perdas, que causa dor e lágrimas, carecendo os envolvidos de manutenção e cuidado especializado. O sofrimento deve ser amadurecido e integrado à vida. O Facebook não cura perdas e frustrações. Um ombro amigo, um coração ouvinte, um colo afetuoso ajudam bem mais. O Facebook pode deixar a dor mais agonizante, ao você ouvir, de repente, a despedida: “Ai, amiga, gostaria de continuar te escutando, mas preciso sair... Tudo ficará bem...Tchau!”. E você volta à sua solidão, agora mais profunda. 

Já milhares de internautas, a exemplo de Liani e Nana, usam o Facebook como formador de opinião e facilitador de interação, diálogo, crescimento, socialização, cultura e fé. A rede facilita o encontro virtual, permitindo momentos de alegria e reencontros que ultrapassam preconceitos, fronteiras, culturas e idiomas. Todo instrumento pode ser uma arma ou um tesouro, depende por quem, para que e como é utilizado. Um pedacinho do céu também pode residir na internet, pois Jesus Cristo, Paulo Apóstolo e Maria têm Facebook. Adicionem! Mãe do Céu, que a vida seja uma rede social de amor e que sejamos internautas da paz. Amém!