quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Dizia-me a jovem adolescente, triste e apagada: “Faz três semanas que falo para minha mãe que me sinto cansada, desanimada, com dores de cabeça. Ela parece não me ouvir, só pensa no trabalho”. Responde a mãe, justificando-se: “Filha, a mãe precisa trabalhar para comprar as coisas para você...”. A explicação da mãe não convenceu a jovem menina, nem os presentes compensam a necessidade de cuidados. Ela estava adoecendo para buscar tempo-cuidado de mãe.
Atenção, pais: filhos muitas vezes adoecem, tornam-se problemas, drogam-se para pedir o tempo dos pais ausentes. O sem-tempo habituou famílias a resolverem compromissos e conflitos de forma virtual, no qual baratos pacotes de torpedos acrescentam soluções a um cotidiano de corre-corre. Em momento algum se tira o mérito destes meios que facilitam a vida hipermoderna, pois nem sempre a família consegue se encontrar durante o dia para combinações e informações rápidas. Veja bem: combinações e informações rápidas. Já os relacionamentos familiares merecem o tempo kairós, cuja experiência traz satisfação e proximidade.
Pais, o tempo perdido com os filhos se tornará um oikos, ou seja, um espaço de encontro do ser, espaço este que restabelece e privilegia a cura dos sentimentos, o crescimento espiritual e o cuidado. O poeta Mário Quintana deixa-nos uma fala pertinente e sábia sobre o tempo: “A vida são deveres que trouxemos para fazer em casa. / Quando se vê, já são seis horas. Quando se vê, já é sexta-feira. Quando se vê, já é Natal. Quando se vê, já terminou o ano. / Se me fosse dado um dia, uma oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.
Deus Pai, Senhor do tempo kairós, abençoa-nos. Amém!
Mãe de todos os homens, cuide de nós. Amém
terça-feira, 30 de julho de 2013
segunda-feira, 22 de julho de 2013
“A
vida continua e se renova”
Relacionamentos
frágeis
A
promessa de casamento eterno é tombada como patrimônio
antigo, as
uniões pós-modernas descuidam a intencionalidade, o
pertencimento e
a permanência
Cleusa
Thewes *
Rose
e Edu
Ela
tem 26 anos e ele, 28. Casados há dois anos, são pais de um bebê
de 10 meses. Rose saiu do emprego para cuidar do nenê. Edu passa o
dia no trabalho.
À noite, em casa, ele se esquece da família e se fecha na sua
rotina de lazer. Janta, lê, assiste a TV, tecla no Facebook. No
trabalho, ele também permanece on-line
o
tempo todo. Rose se sente descasada.
Ela tentou o diálogo conjugal, envolveu-o nas tarefas domésticas,
deixou o bebê aos seus cuidados, mas Edu apresenta dificuldades de
abdicar da solteirice e assumir o papel de parceiro conjugal
e parental. Rose vê seu casamento fragilizado. Em área de risco.
Fábio
e Thamise
Ele
tem 37 anos e ela, 30. Somam um relacionamento de quatro anos, e, há
um ano, decidiram fazer a experiência de morarem juntos. Se desse
certo, casariam. Mas, o que era para ser delicioso, virou frustração.
A experiência de viver sob o mesmo chapéu gerou expectativas
irreais, próprias de pessoas imaturas para o consórcio. Viver em
lua de mel diária, café da manhã e jantar a dois, dormir de
conchinha, passear de mãos dadas aos domingos... Não deu certo.
A
realidade mostrou-se desafiadora. Fábio é enfermeiro noturno.
Quando ele chega, ela sai. Dormir de conchinha? Como? Sozinho? Tomar
café da manhã e jantar juntos? Raramente! Passear no fim de semana?
Não. Ele trabalha sábado à noite no hospital.
Thamise
sente-se abandonada e ele, culpado. Encontram-se no limite da
tolerância conjugal e sem forças para organizar uma relação
ralada e desgastada. Convivem num clima de cobranças, desculpas e
confrontos. Numa coisa, entretanto, concordam: “Perdemos a atração,
o amor... Acabou!”.
E
eu digo: o casamento apenas começou! Façam novos arranjos de
convivência.
Divórcios
Pesquisas
focadas nas famílias confirmam a fragilidade e a inconsistência dos
relacionamentos. Isso não me surpreende nem um pouco. É a realidade
dos consultórios terapêuticos. Dados do Instituto Brasileiro de
Geo- grafia e Estatística (IBGE) constatam que os índices de
divórcios aumentaram 45,6% entre 2010 e 2011. O censo observou que
mais de um terço das uniões
são apenas de convivência, sem casamentos e com duração de cinco
a nove anos. Segundo sociólogos, a sociedade ocidental contemporânea
integra e contempla nos relacionamentos a possibilidade da
dissolução. A promessa de casamento eterno ficou no passado.
A
vida familiar configura-se pelo aumento de uniões livres, sem
casamento. Divórcios, famílias monoparentais, as quais um dos dois
assume a responsabilidade pelos filhos. Filhos no domicílio sem um
dos pais ou nascidos fora do casamento. Famílias compostas e
recompostas, guarda de filhos de uniões anteriores. Vários fatores
sociais, interculturais e valorativos
originam novas configurações conjugais e familiares.
Precisa-se,
sim, consolidar redes internas de fortalecimento emocional,
espiritual, as quais nutram a sustentabilidade dos laços conjugais e
parentais, pois o ser humano não pode permanecer na área de risco e
no vazio desamoroso.
Fragilidade
conjugal
A
vulnerabilidade conjugal ocorre no contexto da transformação e
mudança de valores pelo qual a sociedade transita. Aprendemos que a
construção familiar ocorre a partir da conjugabilidade (homem,
mulher, casamento). Novas modalidades de convivência surgem. Hoje se
casa contando com a possibilidade da dissolução logo adiante. O
casamento é apenas uma experiência etiquetada com prazo de validade
reduzido, limitando-se ao tempo do prazer. Isso ocorre porque a
sociedade perdeu o rumo e, com ela, o ser humano também o perdeu. A
coisificação dos relacionamentos é apenas uma das consequências
da perda do rumo. Há outras, igualmente muito sérias, como drogas e
criminalidade. A promessa de casamento eterno é tombada como
patrimônio antigo. As uniões pós-modernas descuidam a
intencionalidade, o pertencimento e a permanência.
Nos
relacionamentos abertos, a traição é regra acordada e consentida.
Há, evidentemente, muitas variáveis favorecendo a desestabilização
dos relacionamentos. Nos fatos narrados, veem-se casais jovens
fragilizados, girando em círculo na área de risco, sem estrutura
emocional para consolidarem a união. As diferenças pessoais são
confrontadas no combate, muitas vezes irracional. A passionalidade
vítima do
amor, e a desconfiança aniquila a razão. A possessividade
apodera-se de um e de outro. O individualismo subestima a parceria. A
erotização desordenada esvazia a sacralidade do corpo. A ausência
de espiritualidade empobrece a significância do amor.
Os
sociólogos diagnosticam que quanto mais forte é a adesão ao
sistema de valores que fortalece e sustenta o indivíduo na busca de
si mesmo, na realização plena de sua autonomia, mais o casal é
frágil. A busca da felicidade pessoal, em detrimento da conjugal,
não se acompanha simplesmente da negação da disciplina e do
controle sexual, ela demanda, na verdade, atos de transgressão
(adultério, traição), em nome da satisfação pessoal.
Bem,
creio que a fé, a esperança e o amor, atributos divinos, alicerçam
nossas famílias. Cabe a nós cultivá-los.
Mãe
do Céu, assim seja. Amém!
domingo, 21 de julho de 2013
Palestra dia 01/08/2013 as 20:30 horas na Paróquia Nossa Senhora do Caravágio.
A revista Família Cristã irá comigo.
Mãe
24 horas
Mãe
aconchega, mas também precisa ser aconchegada, mãe embala, mas
precisa ser embalada, mãe faz, mas precisa ser ajudada, mãe é
forte, mas também é frágil
Cleusa
Thewes *
Neusa,
54 anos
Mãe
de Nina, 25 anos, e de Alex, 29, que ainda residem com os pais. Neusa
é a típica mãe de dois empregos: administra a empresa familiar e
sua casa. Nesta, esmera-se incansavelmente para deixar tudo em
ordem, abastecida, roupas limpas e no lugar, refeições à mesa. E,
no pouco tempo que lhe resta, ainda remove as teias de aranha do teto
e cuida do jardim. Outro dia ela sofreu um apagão: esqueceu-se de
comprar arroz e café. Com tantas tarefas sobre si, era lógico que
estivesse perdoada da atrapalhada. A filha lhe disse: “Mãe,
você está fazendo coisas em excesso, está sobrecarregada”.
Márcia,
26 anos
Mamãe
da pequena Luiza de 9 meses. Com a chegada do bebê, a vida de Márcia
girou em 360 graus. Entre o emprego e a filha, escolheu a filha.
Assim, por enquanto, abdicou das atividades profissionais para se
dedicar à filha. O esposo compreendeu o papel imprescindível
da mãe no cuidado, na educação e no fortalecimento dos
hábitos iniciais do pequeno e indefeso ser.
Mas,
mesmo não trabalhando fora de casa, Márcia não aguentou ser mãe
24 horas. Cansada da rotina, chamou o pai à responsabilidade. Agora,
quando pode, ele cuida da filha. A mãe aproveita esses raros
momentos para descansar, ler, caminhar, tomar chimarrão e bater um
papo com as amigas. Com esse novo rearranjo com o esposo, Márcia
ficou mais tranquila e feliz.
Luci,
37 anos
Luci
tem André, de 13 anos, e Lucas, de 7. No divórcio assumiu a guarda
dos garotos. Durante o dia, Luci trabalha, e os meninos estudam. À
noite, dedica-se aos filhos. Em fins de semanas alternados, eles
ficam na companhia do pai. Ela aproveita esse escasso tempo para
cuidar de si: descansa, passeia, estuda, namora, reza, organiza a
casa... Luci reconhece a importância de ficar só para
recarregar a bateria materna. Dessa forma, embora divorciados, os
pais administram bem o que sobrou do casamento desfeito, e a vida
deles e a dos filhos vão bem.
Vinte
e quatro horas
Existem
alguns fatores que concorrem para este exagero. Sim, exagero. As
mulheres do século 21 ainda legitimam com atitudes o legado
internalizado de uma cultura machista. O homem provê, e a
mulher procria. Essa ideia arcaica traz implícitas as tarefas de
cada um no casamento. E a casa faz parte das tarefas da esposa e mãe.
Cabe-lhe dar conta de tudo sozinha, sem se queixar. Faxinar até
instantes antes de parir sorrindo. Aliás, o esposo machista quer a
esposa sorrindo sempre, afinal ela é a rainha do lar. Será este o
papel da mãe: esgotar-se, ultrapassar os próprios limites e, como
se isso não bastasse, ainda ouvir reclamações de que anda irritada
demais?
Felizmente
a sociedade está mudando. O censo de 2010 revelou índices de
aumento significativo de mulheres cuidadoras e provedoras ao mesmo
tempo, nos lares brasileiros. Muitas delas têm domésticas. As
outras – que não têm domésticas – disponibilizam uma
força interior capaz de superar mãos, braços e pernas para
cuidarem das desordens do lar. Logicamente nem sempre são
eficientes. Nem isso pode ser pedido a elas.
Já
o afeto elas distribuem sem os limitadores ponteiros do relógio.
Na escuta, o coração substitui as orelhas. Levando o sentimento
direto ao coração, ganham tempo. Esquecendo as formalidades, as
reuniões agendadas, aproveitam as oportunidades que surgem para
desempenhar o papel de mãe. Para a troca de afeto, os conselhos, os
puxões de orelha, não tem mais hora. Ocorrem quando têm de
ocorrer e não em um momento escolhido e agendado.
Maternagem
e qualidade de vida
Mãe
precisa de qualidade de vida. O que é, porém, qualidade de vida? É
cuidar-se! Permitir-se deitar na rede, ver o pôr do sol,
alimentar-se com calma, ir à manicure, fazer atividades e escolhas
que lhe trazem satisfação. Qualidade de vida no lar exige
repartição de tarefas e colaboração de todos os membros. Os
filhos auxiliam no que podem. Mas também momentos de
descontração fazem parte da qualidade de vida familiar. Ir ao
supermercado, o churrasco aos domingos, crianças tomadas banho à
moda de pai na suíte do casal, saindo molhadas corredores afora. É
saudável quando a mãe se permite ser forte ou frágil, animada
ou cansada, alegre ou triste, sorridente ou chorosa, falante ou
silenciosa.
É
bom a mãe se abster da varinha do poder, permitindo-se ser cuidada e
afagada. Olhar-se no espelho e identificar estrelas em seus
olhos. Amar-se para irradiar amor e bênçãos.
Breve
balanço
“Quando
os filhos são embalados pelo soninho da noite, e as estrelas
repousam lá longe, no alto, no manto do céu, ou quando o gotejar da
chuva fina vira canção noturna de ninar, acolha, ó mãe, na
madrugada, sua dor ou sua euforia, chore ou sorria, tornando-se
outra vez criança e deixe-se balançar no colo aconchegante da Mãe
Maria, ela lhe ensinará a ser mãe nos desafios de cada dia, na
guerra e na paz. Amém! Minha bênção de mãe para cada mãe.’’