Mãe
24 horas
Mãe
aconchega, mas também precisa ser aconchegada, mãe embala, mas
precisa ser embalada, mãe faz, mas precisa ser ajudada, mãe é
forte, mas também é frágil
Cleusa
Thewes *
Neusa,
54 anos
Mãe
de Nina, 25 anos, e de Alex, 29, que ainda residem com os pais. Neusa
é a típica mãe de dois empregos: administra a empresa familiar e
sua casa. Nesta, esmera-se incansavelmente para deixar tudo em
ordem, abastecida, roupas limpas e no lugar, refeições à mesa. E,
no pouco tempo que lhe resta, ainda remove as teias de aranha do teto
e cuida do jardim. Outro dia ela sofreu um apagão: esqueceu-se de
comprar arroz e café. Com tantas tarefas sobre si, era lógico que
estivesse perdoada da atrapalhada. A filha lhe disse: “Mãe,
você está fazendo coisas em excesso, está sobrecarregada”.
Márcia,
26 anos
Mamãe
da pequena Luiza de 9 meses. Com a chegada do bebê, a vida de Márcia
girou em 360 graus. Entre o emprego e a filha, escolheu a filha.
Assim, por enquanto, abdicou das atividades profissionais para se
dedicar à filha. O esposo compreendeu o papel imprescindível
da mãe no cuidado, na educação e no fortalecimento dos
hábitos iniciais do pequeno e indefeso ser.
Mas,
mesmo não trabalhando fora de casa, Márcia não aguentou ser mãe
24 horas. Cansada da rotina, chamou o pai à responsabilidade. Agora,
quando pode, ele cuida da filha. A mãe aproveita esses raros
momentos para descansar, ler, caminhar, tomar chimarrão e bater um
papo com as amigas. Com esse novo rearranjo com o esposo, Márcia
ficou mais tranquila e feliz.
Luci,
37 anos
Luci
tem André, de 13 anos, e Lucas, de 7. No divórcio assumiu a guarda
dos garotos. Durante o dia, Luci trabalha, e os meninos estudam. À
noite, dedica-se aos filhos. Em fins de semanas alternados, eles
ficam na companhia do pai. Ela aproveita esse escasso tempo para
cuidar de si: descansa, passeia, estuda, namora, reza, organiza a
casa... Luci reconhece a importância de ficar só para
recarregar a bateria materna. Dessa forma, embora divorciados, os
pais administram bem o que sobrou do casamento desfeito, e a vida
deles e a dos filhos vão bem.
Vinte
e quatro horas
Existem
alguns fatores que concorrem para este exagero. Sim, exagero. As
mulheres do século 21 ainda legitimam com atitudes o legado
internalizado de uma cultura machista. O homem provê, e a
mulher procria. Essa ideia arcaica traz implícitas as tarefas de
cada um no casamento. E a casa faz parte das tarefas da esposa e mãe.
Cabe-lhe dar conta de tudo sozinha, sem se queixar. Faxinar até
instantes antes de parir sorrindo. Aliás, o esposo machista quer a
esposa sorrindo sempre, afinal ela é a rainha do lar. Será este o
papel da mãe: esgotar-se, ultrapassar os próprios limites e, como
se isso não bastasse, ainda ouvir reclamações de que anda irritada
demais?
Felizmente
a sociedade está mudando. O censo de 2010 revelou índices de
aumento significativo de mulheres cuidadoras e provedoras ao mesmo
tempo, nos lares brasileiros. Muitas delas têm domésticas. As
outras – que não têm domésticas – disponibilizam uma
força interior capaz de superar mãos, braços e pernas para
cuidarem das desordens do lar. Logicamente nem sempre são
eficientes. Nem isso pode ser pedido a elas.
Já
o afeto elas distribuem sem os limitadores ponteiros do relógio.
Na escuta, o coração substitui as orelhas. Levando o sentimento
direto ao coração, ganham tempo. Esquecendo as formalidades, as
reuniões agendadas, aproveitam as oportunidades que surgem para
desempenhar o papel de mãe. Para a troca de afeto, os conselhos, os
puxões de orelha, não tem mais hora. Ocorrem quando têm de
ocorrer e não em um momento escolhido e agendado.
Maternagem
e qualidade de vida
Mãe
precisa de qualidade de vida. O que é, porém, qualidade de vida? É
cuidar-se! Permitir-se deitar na rede, ver o pôr do sol,
alimentar-se com calma, ir à manicure, fazer atividades e escolhas
que lhe trazem satisfação. Qualidade de vida no lar exige
repartição de tarefas e colaboração de todos os membros. Os
filhos auxiliam no que podem. Mas também momentos de
descontração fazem parte da qualidade de vida familiar. Ir ao
supermercado, o churrasco aos domingos, crianças tomadas banho à
moda de pai na suíte do casal, saindo molhadas corredores afora. É
saudável quando a mãe se permite ser forte ou frágil, animada
ou cansada, alegre ou triste, sorridente ou chorosa, falante ou
silenciosa.
É
bom a mãe se abster da varinha do poder, permitindo-se ser cuidada e
afagada. Olhar-se no espelho e identificar estrelas em seus
olhos. Amar-se para irradiar amor e bênçãos.
Breve
balanço
“Quando
os filhos são embalados pelo soninho da noite, e as estrelas
repousam lá longe, no alto, no manto do céu, ou quando o gotejar da
chuva fina vira canção noturna de ninar, acolha, ó mãe, na
madrugada, sua dor ou sua euforia, chore ou sorria, tornando-se
outra vez criança e deixe-se balançar no colo aconchegante da Mãe
Maria, ela lhe ensinará a ser mãe nos desafios de cada dia, na
guerra e na paz. Amém! Minha bênção de mãe para cada mãe.’’
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